domingo, 8 de junho de 2008

População de rua: vidas privadas em espaços públicos

Pedir esmola virou uma profissão bem remunerada em Brasília. Mendicância causa infortúnio à comunidade e degradação do patrimônio público e do meio ambiente


Por Biah Gasparotto

Basta caminhar pela Capital Federal para se deparar com um cenário crescente e cada vez mais comum dos grandes centros urbanos, a população de rua. Centenas de emigrantes abandonam a terra natal, famílias e empregos de baixa remuneração em busca de uma melhor qualidade de vida. Poucos conseguem vencer as barreiras da desigualdade socioeconômica. A maioria perambula dia e noite pela cidade, causando infortúnio à comunidade e degradação do patrimônio público e do meio ambiente.

Sinais de trânsito, supermercados e comércios locais são os principais pontos onde podemos observar as ações de pedintes e sem-tetos – crianças, adultos e idosos, que em algumas situações são apenas intermediários que agenciam a mendicância. O consumo de bebida alcoólica e drogas, a demência, o abandono e a promiscuidade sexual, em plena luz do dia, já não despertam surpresas em quem acompanha de perto, mas formam uma combinação que conduz a prática de diversos delitos, que vão desde agressões verbais a lesões corporais, roubos e furtos.

Diariamente, a população de rua transforma as calçadas e áreas verdes das quadras do Plano Piloto em banheiros públicos e residências improvisadas, decoradas com colchões, cobertores e papelões espalhados por todos os lados. Enquanto os novos inquilinos usufruem do direito de ir e vir garantido pela Constituição, a comunidade convive com o mau cheiro, o abuso e a perturbação do sossego e da tranqüilidade pública.

A prefeita da 308 Norte Neide Gouveia afirma que os supermercados localizados nas entrequadras – Pão de Açúcar, Carrefour Bairro e Big Box – contribuem para a permanência dessa população dentro das quadras. “Eles possuem recursos e profissionais que evitam a aproximação dos pedintes, mas a prefeitura não. Contamos com a ajuda dos órgãos responsáveis e com a conscientização dos moradores para que não dêem dinheiro, alimentos e objetos. Do contrário, teremos que aceitar a convivência debaixo da nossa janela e privar os moradores, principalmente crianças, de circularem livremente pela quadra”, lamenta a prefeita.

No dia 23 de fevereiro, o presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Brasília Saulo Santiago encaminhou uma carta às altas autoridades policiais e administrativas do Governo, com intuito de solicitar que sejam tomadas providências cabíveis para amenizar a situação da população de rua e, respectivamente, de toda a comunidade. “O Estado ainda não possui um local apropriado, amplo e com boa infra-estrutura, para abrigar os retirados, de preferência situado fora do perímetro urbano, com serviços médicos e odontológicos para essas pessoas, muitas delas dependentes de álcool ou de outras drogas. Neste grande albergue-hospital, os desvalidos receberiam, por algum tempo, todos os cuidados físicos necessários e as lições práticas para se reintegrarem à sociedade civil como entes produtivos”, destaca Saulo.
Sabemos que é de livre arbítrio conceder ou não esmolas por parte daqueles que priorizam o lado social. O importante é saber quais são os limites e a melhor forma de doar sem constituir um vínculo com o beneficiário da esmola, que, contudo, pode vir a configurar-se em uma acomodação, ou seja, uma forma fácil de ganhar dinheiro. O ideal seria colaborar diretamente com as organizações que trabalham de forma séria e comprometida, com supervisão da assistência social.

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